Por que o ballet infantil é brincadeira muito séria?
Refletindo sobre “novos métodos” para o ensino de ballet clássico, é possível perceber que a formação do artista da dança clássica, diferentemente do que dita o senso comum, depende de um longo processo de formação, que se estende por toda sua vida profissional. Sabemos que a “evolução do pensamento sobre o corpo que dança acompanha a evolução da humanidade, principalmente em seus aspectos políticos e religiosos, uma vez que o corpo sempre esteve atrelado à moral e à personalidade do homem, e é a partir dele que estabelecemos toda nossa relação com o mundo. Sendo assim, por mais que o dançar na infância, na sociedade contemporânea, vem se modificando, não podemos deixar de atentar sobre a construção do conhecimento da técnica do ballet clássico, constituída pela prática da dança em si, pela experimentação do movimento, pela vivência e pela experiência do sensível , afinal, toda e qualquer arte se aprende pela ação, pelo fazer e contato com a arte propriamente dita.
Não surpreende a clara impressão de que aulas de ballet infantil estão se transformando em brincadeira e atividades lúdicas, abastecendo momentaneamente uma didática divertida, com a intensão de agradar o cliente, e cada vez mais, há o sentir-se distante da construção de um período de lapidação da técnica do Ballet Clássico num tempo diferenciado, com aulas regulares, criando rotinas de pelo menos, duas vezes durante a semana. Não tenho intenção de escrever sobre estratégias de ensino-aprendizagem, das questões práticas, mas somente mostrar que, para o desenvolvimento do artista da dança clássica, é necessário muita seriedade, dedicação, disciplina, persistência e repetição, entre outras atividades que envolvem também exercícios de barra e centro. Dos profissionais que atuam na área do ballet infantil espera-se a compreensão para que seus laboratórios de criação venham para contribuir com a perpetuação da dança clássica e motivar futuras bailarinas a buscarem a perfeição na arte da dança. O estudioso Walter Benjamin (2002) em sua obra “ Reflexões sobre o Brinquedo, a Criança e a Educação”, afirma que para a criança ela é a alma do jogo: que nada a torna mais feliz do que o “mais uma vez”. Para ela, porém, não bastam duas vezes, mas sim sempre de novo, centenas e milhares de vezes. ” (P. 03). Logo, brincar é “coisa séria” e tem também “hora certa”.
Viviane Candiotto